quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Oração

Imagem: Anton Semenov


Liberta-te lobo feroz 
Mostra para mim de onde vens 
No coração do próprio homem
Morada sei que tens 

Não se esconda lobo maldito
Não esconda de mim tua face 
Pois eu sei que se continuo vivo
É por ter a ti nos combates


 
Levanta-te criatura infernal 
Não deixe de me acompanhar 
Pois se me abandonares velho amigo
Como ei de poder batalhar



Mastigado e cuspido serei 
Pois sem ti não há salvação
Acompanha-me lobo maldito 
Pois só tu és meu irmão



Liberta-me lobo maldito 
Das amarras a me aprisionar 
E mostra-me lobo maldito 
Em quem posso confiar 


E se em batalha cair 

Sei que de ti a proteção vira 
Pois tu lobo maldito 
Estará a me acompanhar 



E nas horas de desespero 
Não terei o que temer 
Pois carrego dentro de mim 
Um Lobo maldito para me socorrer



Inerente ao meu próprio o ser 
Um lobo maldito se espalha 
Pois ódio no sangue a percorrer
É como brasa quente na palha 



Lobo maldito por fim 
Juru-te lealdade 
Como tu jurastes a mim 
Viverei a tua verdade.

                                                Daniel Sena
 


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Apologia ao Caos


E hoje apenas não quero sair de casa
Quero fazer apologia ao caos
Ver filmes pornôs no café da manhã
Acender fogueira de são João no natal
Romper com meus pais no almoço
E não mais voltar pra jantar
Fugir daqui com você
Fazer sexo até o mundo acabar
Quero abrir as grades da prisão
E abrir o zíper da tua calça
Quero a possibilidade de não voltar mais a viver
E poder voar ao infinito
Quero toda dor e todo o sangue
E tudo mais que for bonito
Toda fúria e toda a revolta contida
Fazer morada nas batidas
Sentir o afago da avó
A simplicidade e o rebuscamento
Fugirei do casamento
No lombo de um jumento
Pois não nasci pra tal calvário
Quero fazer Apologia ao caos
Pois ele é o único que faz sentido
Quero tudo que houver de mais terrível
Tudo que o mundo puder me apresentar
Vou pregar contra as igrejas
E contra o falso moralismo cristão
Vou adolescer por completo meus versos
E farei tudo dar certo 
Quando levantar do meu divã
Meus pais querem um psicólogo
Digo que não tenho nada de Pisciano
O psicólogo fala que é adolescência
Digo, são rios, sou oceano
Acreditam todos que vai passar
Prefiro crer que é o fim dos tempos
Não preciso ter nenhum argumento
Só quero ver o mundo acabar
Roda moinho, roda gigante
Roda moinho, roda pião
Farei de hoje em diante
Do caos o meu coração

Comédia Humana


Imagem: Fabiu Lorenzi 


I

Um olhar languido persegue-me 
Teu corpo delgado, acende-me
Ofegante, excita-me 
Devoro-me com pensamentos imorais
Saliva escorre da boca 
Lambo os beiços imaginando
Deliciar-me contigo, lascívia
Como um lobo ao ver sua presa
Afim de saciar sua avidez canina
Minha pele se arrepia 
Um frio em mim se espalha
Como um guerreiro perante a batalha
Preparo-me para enfrentar meu inimigo 
E depois de derrubar-te de teu trono
Arrancar tuas vestes
E mostrar que és Kafka também 
Desprezível, digna de pena, nada além
E depois de lambuzar-me com cada pedaço
E de saciar todas as minhas vontades
Cuspir-te-ei no chão como mereces 
E te mostrarei, és daninha também
Abrirei teus olhos para ti mesma
E mostrar-te-ei a obscuridade
Que mora em ti

II 

Levantar-te-ei pois mereces 
Ó seres dignos de misericórdia 
Ensinarei a lutar com a força de tuas almas
Pela redenção
Em triste, pranto farei
Reconheça que sou bom 
Sou amor e humildade
E a responsabilidade das mortandades 
Estão fora de minhas mãos 
Povos indígenas, Ucranianos, Armênios 
E outros tantos deveriam morrer 
Faz parte do destino 
Agora segue este caminho fecha teus olhos
Pois te que quero bem
Pra que lembrar do sangue da estrada?
Se no fim da caminhada
Viverás perfeição 
Era necessário que sofressem 
Para que agora reconhecessem 
Que fora de mim 
Não há salvação.
 
 
                                                        Daniel Sena.